Conhece a mulher que está a fazer avançar a cultura de skate de Tóquio
Atletas*
Aos 29 anos, a Azusa Adachi começou a praticar skateboard. Agora, inspira a próxima geração de skaters através do seu projeto, Skate Girls Snap.

"Retratos" é uma série onde falamos com atletas urbanos de todo o mundo.
O skateboard resume-se a quebrar barreiras. Para as skaters femininas no Japão, um país com normas de género rígidas e um mundo de skateboard em desenvolvimento, ainda há muitas barreiras a quebrar. Embora as skaters japonesas tenham conquistado várias medalhas durante a estreia olímpica do desporto, as mulheres japonesas têm tido muito pouca representação neste universo até aos dias de hoje. Ainda assim, as vitórias são prova de que, mesmo que a visibilidade tenha sido reduzida no Japão, as skaters femininas estavam em alta.
A Azusa Adachi é uma das mulheres que está a mudar a comunidade de skateboard de Tóquio e adora fazê-lo. Para a Azusa, não há nada mais importante do que fazer aquilo de que gostas e não há nada de que ela goste mais do que andar de skate, fotografia e conhecer pessoas novas. O seu projeto, Skate Girls Snap, é uma consolidação destas paixões. O website que apresenta imagens das skaters femininas que ela conhece em Tóquio, Skate Girls Snap, oferece uma visão mais aprofundada da comunidade de skateboard feminina no Japão. Através do seu projeto, ela passa uma mensagem importante: existem muitos tipos de personalidades e estilos que compõem a comunidade de skateboard de Tóquio e ainda há espaço para mais. Conversámos com a Azusa para debater o que o Skate Girls Snap nos pode mostrar sobre o mundo do skateboard do Japão e como ela ficou tão viciada no skateboard mesmo antes do seu 30.º aniversário.


Como é que começaste a praticar skateboard?
Costumava andar de BMX no Parque Komazawa. Um dia, uma rapariga de quem fiquei amiga deu-me um skate velho e desgastado. O mundo do BMX é predominantemente masculino e, quando se trata de manobras, muitas vezes sentia que "um homem poderia conseguir fazer algo, mas eu não". No mundo do skateboard, por outro lado, havia muito mais raparigas e era muito divertido podermos praticar juntas. Toda a gente começa a andar de skate na adolescência ou com vinte e poucos anos, mas na altura eu já tinha 29 anos. À minha volta, existem raparigas que desde pequenas têm tentado tornar-se profissionais com o apoio dos seus pais, bem como raparigas que treinam arduamente para as competições. Existem ainda pessoas que, tal como eu, andam de skate por diversão.
Independentemente do nível de aptidão, idade, nacionalidade ou sexo, toda a gente dá o máximo. Quando finalmente conseguimos fazer algo novo, ficamos muito entusiasmadas umas pelas outras. Foi realmente divertido e deixou-me viciada no skateboard. No final de contas, ter um trabalho das nove às cinco começou a parecer-me absurdo. Percebi que mais vale passares a vida a fazer algo de que gostas. Isto fez-me querer passar o máximo de tempo possível a divertir-me. Despedi-me do meu trabalho por impulso. Atualmente, tirando quando estou a fazer trabalhos freelance, ando de skate sempre que quiser e trabalho no Skate Girls Snap nos meus tempos livres.
Resumindo, ficaste tão viciada no skateboard que deixaste o teu trabalho. O que
é que neste desporto é tão apelativo para ti?
É a sensação de trabalhar em conjunto para alcançar algo. O skateboard não é um desporto de equipa, mas é divertido praticar com os amigos. Assim que começas, os obstáculos mentais como "vai doer se eu cair" ou "não me vou integrar" são menos importantes do que se poderia pensar. No meu parque de skateboard habitual, se alguém estiver com dificuldades, falo com essa pessoa mesmo que não a conheça. Apesar de todos praticarmos skateboard a um nível diferente, ensinamos manobras uns aos outros. Toda a gente vai para o parque de skateboard para se divertir e partilhar essa intenção torna-o ainda mais agradável.
Originalmente, andar de skate resumia-se a divertires-te no terreno urbano. Era uma forma de diversão fantástica que tirava partido das caraterísticas da cidade, das escadas e dos corrimões. É por isso que algumas pessoas que pertencem a este mundo acreditam mesmo que o skateboard não é um desporto em ascensão ou uma competição. É uma modalidade bastante natural que une a cidade e as suas pessoas.
Fotografias da Azusa do Skate Girls Snap
O teu projeto, Skate Girls Snap, inclui uma vasta diversidade de skaters femininas. Como é que este projeto surgiu?
As mulheres de todo o mundo estão a criar cultura através do skateboard, quer seja através da música ou da fotografia. Não vi nada deste género no Japão, o que achei que era uma pena. Já me interessava por fotografia e cinema, portanto, pensei "se mais ninguém o está a fazer, porque não o faço eu?" Comecei a fotografar as raparigas à minha volta enquanto andava de skate e tive uma reação muito positiva por parte de todas. A partir daí, criei um website com uma coleção de imagens das skaters que conheci.
O skateboard destaca a individualidade de todas. A forma como andam de skate. O seu vestuário. As sapatilhas que usam. Até o seu penteado. É tudo diferente, dependendo da pessoa. Adoro as raparigas que pensam: "sou assim, por isso, é assim que ando de skate", portanto, queria criar um espaço em que se pudesse ver mais do que apenas imagens: o que as raparigas usam, aquilo de que gostam, em que skates andam e o seu estilo de skateboard. Queria que as raparigas soubessem que não têm de aderir ao estereótipo de uma rapariga skater (por exemplo, a ideia de que todas as raparigas que praticam skateboard se vestem de determinada forma) que lhes é imposto por outras pessoas. Podem vestir-se como quiserem, preparar os seus skates como quiserem e andar de skate como quiserem.
A indústria do skateboard ainda é dominada por homens, mas as mulheres no mundo do skateboard no Japão ainda podem criar e crescer de várias formas. Espero que o Skate Girls Snap as possa inspirar a fazer isso.
Podes falar-nos sobre o teu local favorito dentro do mundo do skateboard em Tóquio e de alguém que tenhas conhecido lá?
Gosto do Parque Komazawa, porque, embora esteja perto de Shibuya e esteja bem equipado, é gratuito. Podes conhecer todo o tipo de pessoas lá: desde crianças a adultos, celebridades e pessoas com diferentes nacionalidades e empregos. Tóquio é uma cidade onde podes conhecer pessoas criativas e cheias de energia, skaters incríveis de todo o mundo ou pessoas que se mudaram de zonas rurais para aqui e estão a criar a sua própria cultura.
Penso que, principalmente, no futuro, os jovens vão iniciar todo o tipo de projetos interessantes. Por exemplo, a minha amiga skater de 20 anos, Sara, lançou a revista online SP8CE magazine. Entrevista as pessoas que conheceu através do skateboard e conta as suas histórias. É raro as skaters femininas no Japão fazerem coisas deste género, portanto, penso que é muito importante.

Por último, quais são os teus objetivos futuros no que diz respeito ao skateboard?
A vida é curta, por isso quero passar o máximo de tempo possível a divertir-me. O Skate Girls Snap e o skateboard são coisas que faço por gosto. Não o faço porque alguém me pediu. Não sou obrigada a transmitir nenhum tipo de mensagem. É algo que adoro de forma genuína. Tenho conseguido fazer o que faço porque estou a ser fiel a mim mesma, portanto, o facto de estar a ajudar outras pessoas faz-me muito feliz.
É por isso que o meu objetivo é muito simples: divertir-me a andar de skate. Não quero andar de skate por ser uma obrigação, nem pelo dinheiro, nem pelo trabalho. Se me conseguir manter fiel a mim mesma e continuar a andar de skate com toda a gente, é o suficiente para mim.
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Fotografia: 217…NINA
Texto: Aya Apton
Vídeo: Karen Masumoto