De que forma a memória muscular pode acelerar o teu progresso
Orientação
Os teus músculos podem memorizar os ganhos de força que atingiste meses antes, mesmo depois de um período de inatividade. Desencadeia essa memória aqui.
O teu cérebro nem sempre consegue reter determinadas informações, como o número do cartão de crédito (se calhar, ainda bem) ou onde deixaste os óculos de sol (procura na cabeça). No entanto, provavelmente ainda te lembras como se esquia depois de alguns anos sem percorreres as pistas ou como se faz uma roda mesmo que não faças ginástica desde a infância.
A capacidade do teu corpo retomar no ponto onde paraste designa-se por "memória muscular". Na verdade os teus músculos não memorizam nada: é o teu cérebro que memoriza a forma de execução de uma capacidade motora. "Quando executas um determinado movimento repetidamente, estás a treinar o teu sistema neuromuscular até que o teu sistema nervoso central aprenda a executar esse movimento como uma ação fluida e coordenada, sem teres de pensar nela", explica Heather Milton, CSCS, fisiologista de exercício clínico registada e supervisora no NYU Langone Health Sports Performance Center. (Salienta, no entanto, que isto não é razão para não se prestar atenção à forma.)
Embora a memória muscular, como sabemos, ocorra sobretudo no nosso cérebro, foi recentemente descoberto por investigadores um tipo mais literal de memória muscular, designado memória epigenética, que ocorre nos próprios músculos quando são expostos ao treino de força. Neste caso, o ADN dos músculos podem reajustar-se em resposta ao que lhes é transmitido, preparando o tecido para ganhos futuros. Na verdade, um novo estudo publicado na revista Medicine & Science in Sports & Exercise constatou que os músculos conseguem, de facto, armazenar memórias a um nível molecular de sessões de treino de resistência anteriores durante até 20 semanas. Tal pode ajudar a acelerar o teu progresso mesmo depois de uma (longa) pausa longe do ginásio.
Parece-te demasiado bom para ser verdade? Presta atenção: no estudo, os participantes fizeram treinos de força com apenas uma perna três vezes por semana durante dez semanas e, em seguida, deixaram de treinar totalmente durante cinco meses seguidos. Marcus Moberg, o autor do estudo e professor assistente na Escola Sueca de Ciências do Desporto e da Saúde em Estocolmo, afirma que a equipa de investigação constatou que a perna que anteriormente tinha sido exercitada era significativamente mais forte do que a perna que não tinha sido, de tal forma que conseguia levantar pesos 10 a 25% mais pesados. Por isso, se interrompeste o levantamento de pesos e não suportares a ideia de ter de recomeçar do zero, lembra-te de que poderás estar até 25% mais avançado na tua jornada de treino do que quando começaste pela primeira vez.
Um novo estudo publicado na revista Medicine & Science in Sports & Exercise constatou que os músculos conseguem, de facto, armazenar memórias a um nível molecular de sessões de treino de resistência anteriores durante até 20 semanas.
A equipa de Moberg também realizou biópsias aos músculos dos participantes, logo após o período de 10 semanas de treino e passados cinco meses do último treino. O que constataram na perna que treinou: maiores níveis de marcadores genéticos e proteicos que se acredita estarem relacionados com o crescimento e a saúde muscular, bem como com a resistência muscular, o que poderia explicar a sua força.
Assim, parece que o cérebro e os músculos trabalham em conjunto, afirma Moberg. O teu cérebro retém as capacidades motoras, ao passo que os teus músculos se agarram às mudanças estruturais que te podem ajudar a recuperar e readquirir mais rapidamente a força perdida.
Esta notícia não é desculpa para guardares os halteres. Não deixa de ser verdade que o descondicionamento pode começar a ocorrer logo após algumas semanas de deixares de fazer exercício, embora os efeitos dependam sobretudo do teu tipo de atividade e nível de condição física antes de deixares de treinar. Segundo Milton, a maioria das pessoas perderá alguma capacidade aeróbia no espaço de uma semana, ao passo que a diminuição da capacidade de treino de força leva mais tempo e afeta as pessoas de forma diferente. No entanto, quer estejas fora de jogo durante uma semana ou cinco meses, há que ter isto em mente: "Se anteriormente treinavas, é muito provável que não tenhas perdido tudo o que tinhas alcançado", afirma Milton. "Estarás algures entre a tua condição física máxima e o teu ponto de partida original." Por isso… podia ser pior.
Porém, a descoberta também não deve incitar-te a ires até ao limite quando regressares à tua rotina de exercícios. Para teu bem, faz as primeiras sessões ou semanas de treino com um pouco menos de intensidade do que fazias quando paraste. "Até uma pessoa com grande capacidade física terá de retomar a partir de um nível mais baixo, só que provavelmente conseguirá melhorar a um ritmo mais rápido do que alguém que possua um histórico de treino menos intensivo", afirma Milton. Não queres retomar para logo a seguir teres de ficar afastado devido a lesões ou a treino excessivo.
Embora possas não te sentir bem a fazer determinada atividade ou esta pode não parecer apelativa após uma longa pausa (como fazer a roda), é motivante saber que é altamente improvável voltar mesmo à estaca zero em alguns meses ou mesmo anos. Além disso, até é possível que progridas mais rapidamente do que na primeira vez. Assim, não te esqueças de agradecer ao teu cérebro e aos teus músculos por isso.