Novos ídolos: Dylan Alcott
Atletas*
O Dylan Alcott é o melhor tenista em cadeira de rodas do mundo. Contudo, o seu legado não se centra apenas em ganhar mais títulos. O Alcott está a mudar as perceções dos jovens tenistas como ele.
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Com 14 grandes títulos, medalhas paraolímpicas e inúmeras vitórias em torneios, o australiano Dylan Alcott é uma verdadeira lenda do ténis em cadeira de rodas. No entanto, todos estes prémios não são aquilo que o tornam fantástico. O Dylan acredita que o seu verdadeiro objetivo é ajudar a mudar as perceções em torno das pessoas com deficiência, para que mais jovens atletas possam viver a vida que merecem. Um desses jogadores é o campeão júnior de ténis em cadeira de rodas, Ben Bartram. Para esta história, o Ben, de 16 anos, teve a oportunidade única de entrevistar o seu ídolo Dylan sobre a forma como o desporto mudou as suas vidas. Eis como correu.
Primeiro serviço
Para dar início à entrevista, o Ben e o Dylan falaram sobre a forma como descobriram o desporto em crianças e como isso acabou por mudar as suas vidas.
BEN: O que significa o ténis para ti?
DYLAN: Eu costumava ser vítima de bullying por parte de alguns miúdos na escola por causa da minha deficiência. Na verdade, nunca conheci ninguém com deficiência, por isso, sentia-me um pouco perdido. Quando comecei a jogar ténis, foi a primeira vez que conheci outras pessoas como eu.
BEN: Sim, não tenho como discordar. O aspeto social é incrível. O ténis deu-me a sensação de que eu não era diferente. Vejo toda a gente à minha volta, todos iguais a mim e penso como isso é algo tão revigorante. Na verdade, isso deu-me a confiança de que precisava em todos os restantes aspetos da minha vida.
DYLAN: O desporto tem esse poder, não é? Estou numa posição tão privilegiada no sentido em que sou um atleta profissional a tempo inteiro de ténis em cadeira de rodas. A geração anterior não teve as mesmas regalias. Não tiveram as mesmas oportunidades para jogar que tanto eu como tu temos, não concordas? Isso é algo que nunca dou como garantido.
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Jogar por algo mais do que uma vitória
No decorrer da carreira do Dylan, o ténis em cadeira de rodas começou a ser destaque. Aqui, o Dylan partilha com o Ben o motivo pelo qual esse reconhecimento é merecido. Não apenas para os jogadores, mas também para as crianças com deficiência de todo o mundo.
BEN: Qual é a vitória que consideras mais memorável?
DYLAN: Acho que a minha vitória mais memorável foi quando competi no Open da Austrália. A primeira aconteceu em 2014 e estavam lá não mais do que quatro pessoas. Duas delas eram os meus pais. Depois, em 2018, tive a oportunidade de jogar na Rod Laver Arena, que é o court principal do Open da Austrália. Estavam mais de dez mil pessoas lá. Milhões de pessoas a ver pela televisão.
A melhor parte foi que, nestes grandes courts principais, existem lugares para pessoas com deficiência. Pelas minhas contas, deviam estar lá cerca de quinhentas crianças em cadeiras de rodas. Nunca vi tantas crianças em cadeiras de rodas num único local e isso tocou-me profundamente. Sabes porquê? Porque, quando era mais pequeno, os atletas com deficiência nunca tiveram essa experiência. Isto foi algo com que sonhei desde miúdo, mas que nunca pensei que acontecesse.
As pessoas querem assistir a partidas de ténis em cadeira de rodas porque se trata de um desporto de elite, mas também porque se estão a mudar as perceções das gerações de atletas mais jovens como tu. Quero que ganhes em Wimbledon, no court principal, com 15 000 pessoas a assistir. Milhões de pessoas a ver na BBC. Como é que isso te iria fazer sentir?
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BEN: Sim. [Risos.] Eu também gostava.
DYLAN: Tu mereces isso porque vais ser o melhor do mundo. Trata-se de derrubar as barreiras.
BEN: As coisas melhoram cada vez mais de ano para ano. O nível dos melhores jogadores é incrível e não vai ficar por aqui. Mal posso esperar para ver onde estará este desporto daqui a cinco ou dez anos.
DYLAN: Uma vez que, agora, os atletas podem dedicar-se a tempo inteiro, a qualidade do ténis é simplesmente enorme. E todos se mostram espantados pela força que coloco na bola ou pela rapidez com que me movo. Eu penso "Mas o que é que esperavam?" Mas confesso que estou a ficar assustado, porque existem atletas, como tu, que dentro de pouco tempo vão estar a dar-me uma tareia no court.
Olhar para lá do court
No final da conversa, o Dylan e o Ben revelam as suas esperanças para o futuro do ténis em cadeira de rodas e falam sobre o significado de ser um verdadeiro campeão.
BEN: O que te entusiasma mais quanto ao futuro do nosso desporto?
DYLAN: O que mais me entusiasma é a sua crescente popularidade. Quero que seja normal estarmos integrados nos programas de elite dos Grand Slams e em todos os torneios do mundo. Sou, acima de tudo, um atleta de elite que, por acaso, tem uma deficiência. Quero mais e melhores oportunidades para atletas com deficiências, pois é exatamente isso que merecemos.
BEN: Sim, seria bom vermos mais torneios de ténis em cadeira de rodas integrados no ATP e na WTA. Isso seria simplesmente espetacular.
DYLAN: Só quero ver o crescimento deste desporto. Quero ver mais crianças com deficiência a tentarem a sua sorte. A verdade é que uma decisão dessas lhes pode mudar a vida. Não se trata apenas de ganhar.
BEN: O que queres dizer com isso? Neste momento, ganhar é tudo para mim.
DYLAN: As pessoas pensam que o meu objetivo na vida é ganhar medalhas de ouro e Grand Slams, mas não é. O meu grande objetivo na vida é mudar perceções e quebrar estigmas negativos para que as pessoas com deficiências possam viver as vidas que merecem. O ténis deu-me essa montra e essa possibilidade. Quando pensamos neste sentido, o propósito vai ainda mais além do que ganhar partidas de ténis.
BEN: Sim, na verdade, adoro competir em torneios.
DYLAN: Claro, a competição é incrível, mas acho que o verdadeiro campeão não é quem ganha mais torneios. Há mais para além disso. É sobre aquilo em que acreditas e como te representas a ti e à tua comunidade.
BEN: Ver o impacto que tens no desporto é fantástico.
DYLAN: Ainda bem. Fico mesmo contente por pensares isso, a sério.
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"As pessoas com deficiência podem parecer tão incríveis quanto elas quiserem"
- Dylan Alcott
Atual n.º 1 do mundo do ténis em cadeira de rodas
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